Wednesday, January 16, 2013

Gol 1000 de Pelé




Maracanã, 19 de novembro de 1969. Em noite de gala do futebol brasileiro, o estádio recebe 65.157 torcedores. São 23 horas e 19 minutos. Vasco e Santos se enfrentam em um jogo da Taça de Prata, o Campeonato Brasileiro da época. A partida está empatada. Benetti fez o gol dos vascaínos aos 16 minutos e Renê (contra) igualou o placar para os santistas aos 10 minutos do segundo tempo.

Aos 32 minutos, Pelé cai na área do Vasco após um choque com o zagueiro Fernando, depois de lançado por Clodoaldo. Os cariocas protestam muito contra a marcação do árbitro Manoel Amaro de Lima, de Pernambuco. Em meio à catimba dos vascaínos, todos os jogadores paulistas olham para o banco de reservas onde está o técnico Antonio Fernandes, o Antoninho. Ele determina que Pelé cobre o pênalti.

Estádio em silêncio. Todos os jogadores do Santos ficam atrás da linha do meio-de-campo. Já estava combinado: quando Pelé fizesse o milésimo gol, o jogador correria até o meio do campo para abraçá-los. No seu jeito singular de cobrar, Pelé vai chutar...

“O jogo parado, o estádio inteiro calado. Eu, a bola e o Andrada. Naquela hora tive um terrível medo de falhar. Fiquei nervoso. Sabia que todos esperavam o gol. Pouca gente viu, mas fiz o sinal da cruz antes de cobrar o pênalti”, disse o próprio Rei, em um de seus depoimentos sobre o dia histórico.

Pelé partiu em direção à bola, deu a tradicional “paradinha” – que agora volta a ser contestada pela Fifa – e chutou forte, no canto esquerdo, exatamente às 23h23. O goleiro Andrada caiu muito bem, até chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol. Frustrado, ainda no chão, deu murros no gramado. Em entrevista ao jornal A Gazeta Esportiva, o goleiro disse que era sua obrigação defender aquele pênalti. “Naquele dia eu enfrentei o mundo. Em campo, não dava para escutar nem a respiração dos torcedores.
Até a torcida do Vasco torceu contra mim”.


Pelé foi sem defesa para Andrada. Bola na rede, fato consumado. Enquanto o primeiro jogador profissional a marcar mil gols na história do futebol mundial buscava a bola e a beijava, no intuito de correr em direção aos companheiros, dezenas de radialistas e jornalistas invadiram o campo, cercando-o de microfones e de câmeras. O primeiro depoimento, emocionado, foi dado ao repórter Geraldo Blota, o “GB”, da Rádio Jovem Pan: “Dedico este gol às criancinhas do Brasil”. O goleiro santista Agnaldo, que estava no meio do campo, correu em direção a Pelé, engatinhou entre tantas pernas e ergueu o Rei em seus ombros. Uma festa inesquecível.

saiu de campo (substituído por Jair Bala) e guardou a camisa branca do Santos para entregar a sua filha Kelly Cristina. O Santos ganhou do Vasco de 2 a 1. A bola que ele havia perdido em meio a toda aquela confusão lhe foi entregue pelo companheiro Abel, que a guardou com carinho por quase 30 anos.

Seus companheiros de time vibraram com a vitória e com a marca histórica de Pelé. São eles Agnaldo; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias (depois Joel) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Edu, Pelé (depois Jair Bala) e Abel. Como eles, também tomaram parte nesse jogo histórico os vascaínos Andrada; Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval, Renê e Buglê; Acelino (depois Raimundinho), Adílson, Benetti e Danilo Menezes (depois Silvinho), todos comandados pelo treinador Célio de Souza. Todos foram testemunhas dessa verdadeira façanha de Pelé. Como eu também, jovem repórter do Diário Popular, escalado para esse jogo histórico.

Ao todo, Pelé marcou 1.284 gols em sua carreira. Desde o dia em que vestiu a camisa do Santos pela primeira vez, em 7 de setembro de 1956, quando também fez o seu primeiro gol como profissional, contra o Corinthians de Santo André, no ABC, até a sua despedida oficial dos gramados brasileiros, em 2 de outubro de 1974, no jogo com a Ponte Preta, na Vila Belmiro, Pelé conquistou todos os títulos que qualquer jogador sonha em alcançar.

Em 18 anos de carreira profissional – sem contar sua passagem pelo Cosmos de Nova York, quando ensinou e promoveu o futebol nos Estados Unidos – Pelé obteve 56 títulos pelo Santos e Seleção Brasileira, um recorde, sendo os principais o de bicampeão mundial de clubes pelo Santos (62 e 63) e o de tricampeão mundial pelo Brasil nas Copas de 58, 62 e 70. Eleito Atleta do Século XX, marcou os 1.284 gols em 1.371 jogos disputados e oficialmente comprovados.

Vários jornalistas brasileiros tiveram o privilégio de acompanhar toda a carreira de Pelé, o maior jogador de todos os tempos, em jogos em São Paulo, no Brasil e no Exterior, de 56 a 69. Odair Pimentel, Orlando Duarte, Oldemário Toguinhó, José Maria de Aquino foram alguns deles. Tenho muito orgulho de também me incluir nessa relação de privilegiados profissionais.

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